Segurança dos bebês: EUA revisam normas
A Academia Americana de Pediatria (AAP) decidiu atualizar as diretrizes para a
segurança do sono de crianças de até 1 ano de idade, depois que grandes estudos
mostraram que a vacinação e a amamentação nos primeiros meses de vida reduzem
pela metade o risco de morte súbita infantil.
Além
dessas duas recomendações, a norma traz outra novidade: o uso de protetores de
berço, almofadas e travesseiros deve ser evitado. Nesse caso, o objetivo é
diminuir o risco de morte por sufocamento.
"É
difícil saber quando um bebê foi vítima de morte súbita verdadeira ou de
sufocamento. Portanto, quando se trata de segurança do sono, temos de combater
os fatores de risco para ambos", diz o pediatra Michael Goodstein, membro
da força-tarefa que elaborou as diretrizes.
Também
continuam valendo as orientações anteriores, como colocar o bebê para dormir de
barriga para cima (mais informações nesta página). Desde que essa passou a ser
a regra nos Estados Unidos, em 1992, os casos de morte súbita caíram 53%.
"Estimamos que pelo menos 30 mil bebês foram salvos graças a essa
recomendação", diz Goodstein.
No
Brasil, esse assunto só passou a ser discutido em 2009, quando a Pastoral da
Criança lançou uma campanha mostrando fotos de bebês vestindo uma roupa com os
dizeres "este lado para cima". Na época, isso causou polêmica entre
os pediatras, que tinham medo de que a criança engasgasse caso tivesse refluxo.
O hábito, por aqui, era colocar os bebês para dormir de lado, conta Magda
Nunes, coordenadora do núcleo permanente de Estudos do Sono da Sociedade
Brasileira de Pediatria (SBP).
Até
então, a morte súbita nunca tinha sido uma preocupação no País. Após a
polêmica, a SBP teve de se posicionar. Criou o núcleo de estudos e apoiou a
campanha da Pastoral.
De
maneira geral, conta Magda, a entidade endossa as diretrizes americanas, mas
com "algumas adaptações". Recomenda, por exemplo, que os pais
inclinem levemente o colchão para evitar engasgos caso o bebê regurgite. Isso
não é aconselhado pela academia americana.
A
AAP, por outro lado, condena o uso de aparelhos para monitorar a respiração do
bebê - anunciados como arma para prevenir a morte súbita. "Não queremos
que os pais gastem dinheiro com isso e tenham a falsa sensação de que os filhos
estão protegidos", diz Goodstein. Mas isso, no Brasil, sequer é discutido.
Chupeta.
Outra recomendação americana que dividiu opiniões por aqui foi em relação ao
uso da chupeta durante o sono. "Há uma forte corrente dentro da SBP que
não aceita indicar a chupeta por medo de que isso prejudique a amamentação.
Mas, de fato, há estudos que mostram um efeito protetor, pois ela estimula o
reflexo da sucção e isso parece ativar a região do cérebro responsável pela
respiração", explica Magda.
Goodstein
defende a introdução da chupeta após as primeiras quatro semanas de vida,
quando a amamentação já estiver bem estabelecida. Mas se o bebê não quiser,
alerta o pediatra, os pais não devem forçar.
Cama
compartilhada. Uma orientação de 2005 que continua valendo é a de colocar o
bebê para dormir no mesmo quarto dos pais, mas não na mesma cama. Segundo
Goodstein, o risco de morte súbita nos três primeiros meses de vida aumenta dez
vezes quando o bebê compartilha a cama adulta. O perigo pode ser ainda maior
quando os pais fumam, bebem ou tomam medicamentos para dormir.
Manter
o berço no quarto dos pais até o sexto mês de vida do bebê, no entanto, é de
fato um bom conselho na opinião de Márcia Pradella, coordenadora de pediatria
do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "A
mãe consegue assim desenvolver uma percepção maior do ritmo respiratório da
criança e consegue perceber mais facilmente quando algo está errado",
avalia.
A
fisioterapeuta Bibiana Monteiro, de 35 anos, é adepta dessa prática. Durante a
noite, mantém o filho Bernardo, de 5 meses, em um berço desmontável ao lado de
sua cama. "Ele geralmente acorda duas vezes durante a noite para mamar. Aí
o trago para minha cama e amamento deitada. Mas depois ele volta para o
berço", conta.
Bibiana
toma outros cuidados para garantir um sono tranquilo para o filho. Os lençóis
do berço foram adaptados para ficarem no tamanho exato, sem folgas. Não usa
travesseiros e nem o jogo de protetores de berço que ganhou de sua mãe. "O
berço desmontável tem as laterais de tela, então não há necessidade. Seria
mesmo só para decorar", diz.
Sobre
isso, Goodstein alerta: os pais devem encarar o berço do bebê como um
dispositivo de segurança e não como uma peça de mobília que precisa combinar
com a decoração.
Fonte:
Estadão